- Área: 228 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:António Chaves
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Fabricantes: CIN, Catalano, HIDROBOX, Kerion, Primus Vitória, Sanindusa, Weber
Descrição enviada pela equipe de projeto. Em meados de 1915, a conclusão da construção da Avenida da Boavista no Porto, em Portugal, incrementou o crescimento urbano de novas zonas contíguas ao eixo viário. Em 1950, inserido nessa política de expansionismo e consolidação urbanas, foi construído um bairro de 71 moradias de inspiração no Movimento Moderno, chamado de Cooperativa O Lar Familiar (mais tarde o Bairro dos Músicos), com a autoria do Arquitecto Mário Bonito. O bairro propunha a nova malha urbana, com o traçado do espaço público e com quarteirões de frente edificada à face da rua. Tipologicamente, encontramos bandas construídas de moradias justapostas, uni e bifamiliares, de alçados dinâmicos que conjugam cores diferenciadas, linhas oblíquas das coberturas e da fachada, pilotis, palas de sombreamento, tijolos vazados reforçando a aposição à linguagem moderna.
O lote objecto da nossa intervenção era semelhante às moradias contíguas, de tipologia T3, com 2 pisos e logradouro privado, compreendendo-se a sua modulação estrutural que consequência uma grande clareza espacial. Por essa razão, a sua reabilitação era um desafio, somando-se um grande respeito pela sua linguagem moderna. Tínhamos, contudo, a experiência de uma reconversão anterior de uma habitação idêntica, o que nos permitiu assegurar soluções e manter elementos de valor arquitetônico fundamental – o volume, as fachadas com os seus materiais originais, o núcleo de escadas principal e a estrutura de madeira da cobertura.
O principal objectivo da nossa intervenção era converter a moradia existente num espaço contemporâneo que unisse a herança recebida com o conforto das exigências atuais – uma melhoria térmica, acústica e uma preocupação ecológica nas soluções propostas. E que revelasse jogos de luz e sombra, conjugados com respostas formais-funcionais.
A projeto foi pensado com o intuito de dar eficácia ao seu funcionamento: no rés-do-chão, encontram-se as áreas comuns - uma grande sala de jantar e de estar, ocupando a extensão total do comprimento do volume; no lado sul estão localizadas a casa de banho social, as escadas e a cozinha. No tardoz da casa, encontra-se um jardim pequeno, mas bastante solarengo.
Nos nossos projetos de caráter doméstico adoramos reavivar elementos antigos da arquitetura tradicional e não dispensamos um passa-pratos, à moda da habitação burguesa, ou seja, uma passagem direta entre a cozinha e a sala de jantar que tem como objectivo facilitar o seu uso e clarificar percursos.
No primeiro piso, mantivemos a área privada da casa: os quartos que foram cuidadosamente pensados para os clientes. A suíte está dividida em quarto, armário e casa de banho, onde são transmitidos momentos diferenciados na mesma divisão.
A partir deste andar criamos um acesso ao sótão, abrindo claraboias para permitir a entrada de luz natural. Esta divisão, que não existia, é hoje considerada por muitos o espaço mais acolhedor e sossegado da casa, pelo que desempenha a função programática de sala de estudo e de televisão.
Nós acreditamos que a nossa intervenção contribuiu para estabelecer uma relação entre o existente e o proposto, resultando um todo coerente, luminoso, vibrante em cor e textura - um verdadeiro lar.